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cronica 292: "Octavio Frias, o padrinho da Turma da Mônica"

Ontem foi um dia triste. Meu amigo Octavio Frias de Oliveira foi embora. Mas deixou uma partezinha da sua história para eu contar. E não é inventada, como nos quadrinhos. Aconteceu mesmo, meio como um conto de fadas.

Começou quando resolvi sair de Mogi das Cruzes para montar um estúdio em São Paulo, no começo dos anos 60. As tiras do Bidu e do Cebolinha já eram publicadas na Folha, mas era muito difícil enviar quase todo dia os desenhos originais para a redação. Eu ainda não tinha equipe e desenhava aos poucos. Terminava e mandava. Era um trabalhão.

Fora o transporte sofrível entre Mogi e São Paulo, tanto de ônibus quanto de trens. Naturalmente, carro ainda era um sonho distante. Por isso, a mudança de endereço era super-necessária. Encontrei um bom apartamento para alugar na Alameda Glete, praticamente ao lado da Folha. Uma maravilha de local. Era desenhar e chegar à redação, a pé, em poucos minutos.

Mas aí surgiu um problema inesperado: a imobiliária me pediu um fiador. Eu não tinha amigos proprietários em São Paulo. Estava para perder o imóvel quando resolvi falar com os diretores-proprietários da Folha: Frias e Caldeira (Carlos Caldeira Filho), que era como os chamávamos à distância. Ouviram-me atenciosamente, comentaram sobre os meus quadrinhos, de como os leitores estavam aceitando bem a turminha que nascia e resolveram me ajudar.

Frias pediu que Caldeira ligasse para um publicitário, dono da agência Norton, e solicitasse a fiança, já que os estatutos da Folha os impediam de fazê-lo.

E lá fui eu com um bilhete do Caldeira e o contrato de locação nas mãos procurar pelo publicitário Geraldo Alonzo, que me atendeu pronta e gentilmente.

Eu estava, finalmente, com os pés num bom local para instalar estúdio e moradia. E ali comecei a formar minha equipe de auxiliares. Um dos quais trabalha comigo até hoje, o Sergio Tibúrcio Graciano. Os tempos correram, a turminha foi aumentando, vieram a Mônica, Piteco, Jotalhão, Horácio... e a equipe também foi aumentando. As dimensões do apartamento/estúdio já não bastavam.

Foi quando percebi um pequeno prédio recém-terminado, ao lado da Folha, abrindo-se para a venda de salas e andares. Procurei o corretor e ousei propor a compra de quatro salas - que é até onde eu podia ir. Assinei os papéis de compromisso de compra e fui almoçar.

Logo depois do almoço, o corretor que havia me atendido me procurou, esbaforido, para eu desistir do negócio. A diretoria da Folha resolvera comprar todo o edifício. E meu compromisso de compra poderia atrapalhar o negócio. Fiquei contrariado. Iria perder o local ideal para trabalhar com o jornal?

Não me conformei e fui falar com o Frias. Ele me atendeu muito gentilmente, como sempre (não sem antes eu passar por um longo e usual "chá de cadeira" proporcionado pela sua fiel secretária). Expliquei a situação e ele me propôs, então, uma solução que poderia resolver o impasse: eu desistiria da compra e ele me cederia meio andar do prédio (o dobro do que eu estava tentando comprar) durante o tempo que precisasse, sem cobrar aluguel, luz, água, telefone, para me ajudar no início de carreira. E também porque não precisava de todas as dependências do prédio.

Saí maravilhado. Era coisa de pai para filho. E assim foi. Durante muitos anos.

Graças a essa gentileza pessoal e econômica do velho Frias, sempre em concordância com o sócio Caldeira, pude apressar a montagem da equipe, desenvolver a redistribuição de material para outros jornais, criar a Folhinha de S.Paulo, produzir e distribuir suplementos coloridos (o Jornalzinho da Mônica) que eu enviava já impressos para todo o Brasil. Até chegar a quase 300 jornais com nossas historinhas.

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Só faltava revista de banca.

Até mesmo nesse segmento quase fui atendido pela Folha. Planejaram o lançamento de revistas em quadrinhos com nossos personagens, que seriam rodadas na mesmas impressora do jornal. Chegaram a imprimir alguns exemplares, inclusive. Mas essa experiência não foi adiante... na Folha.

Aconteceu logo depois, mas na Editora Abril, que lançou a revista Mônica em 1970.

E nossa história com a Folha foi se desenvolvendo mais alguns anos até ocuparmos dois andares do pequeno prédio. A demanda crescia. E eu já pagava alguns dos custos da nossa ocupação. Agora eu podia.

Então, mudou a direção do jornal. O filho substituiu o pai. E chegou o dia em que me pediram para desocupar a área. A Folha também crescera. Agora, precisava do prédio todo. Terminara nossa longa e proveitosa ligação com o grande jornal. Inesquecível e vital nos primeiros anos do nosso estúdio.

O velho Frias tinha feito sua parte. Entrou para a história da Turma da Mônica como um benemérito.

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É nosso padrinho. Com orgulho e honra.

30 de abril de 2007

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